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Campeonato anima-se depois da visita ao Alentejo

28 May , 2017

Segunda prova, segundo vencedor e segundo piloto a comandar o campeonato. Em resumo, podemos definir por estas palavras o resultado da Baja T.T. Reguengos de Monsaraz, realizada neste último fim de semana entre os limites de Évora e da albufeira do Alqueva.

Nas pistas, especialmente poeirentas, apesar da ameaça de chuva, os grandes protagonistas foram Ricardo Porém e Hugo Magalhães, que deram um belo espectáculo de condução ao volante da Ford Ranger preparada pela South Racing. Vê-los passar não deixava ninguém indiferente, despertando comentários de incentivo, por vezes numa linguagem que o puder nos impede aqui de reproduzir, mas sempre com uma atitude positiva, diremos até carinhosa.

O público que foi salpicando as bermas, nas curvas mais fechadas e até nalgumas ribeiras que o calor dos últimos dias não bastou para secar, reagia sempre com especial entusiasmo à passagem dos primeiros carros e depois, quando o ritmo de passagem e de andamento começava a acalmar, lá vinham os comentários em jeito de balanço, que iam desde o “até parece que não sei guiar”, quando se referiam a Ricardo Porém, aos inevitáveis “se soubesse que dava para andar assim também tinha trazido a minha carrinha e ainda acabava à frente de muitos…”

O cheiro a churrasco denunciava, desde o resguardo das sombras, os grupos de espectadores que foram em “romaria” até aos caminhos percorridos pelos pilotos. Aqui, na Todo Terreno, dedicamos a nossa atenção aos automóveis, ou aos jipes, como quiserem entender, mas não podemos deixar de acrescentar que o público foi brindado com mais do que a passagem da trintena de automóveis que concorreram a esta 29ª Baja T.T. Reguengos de Monsaraz. Porque também havia motos, quads e buggys, que formavam uma caravana ainda mais extensa.

Mais do que observámos, que nos desculpem os mais envolvidos nestas corridas paralelas, porque entendemos sempre que o ponto alto eram os automóveis. Sobretudo os primeiros. E os restantes carros nem sempre faziam as caras virar-se do assador das febras para o trilho, mas a verdade é que quase toda a gente não arredava pé enquanto não passassem os últimos, os modelos mais antigos, clássicos até, que já não têm homologação e competem numa categoria nacional, à margem dos restantes. Estes, aliás, correram apenas no sábado de manhã, no prólogo, e no domingo de manhã, no segundo sector selectivo.

Os vencedores de trás para a frente

Nesses tempos idos, entre o final da década de 1980 e meados da primeira década deste milénio, as listas de inscritos destas corridas preenchiam folhas e folhas de papel, impressas em letra miudinha. Hoje basta apenas uma página, às vezes duas, mal preenchidas, com uma única excepção: a Baja Portalegre 500, a corrida pioneira, que encerra o campeonato todos os anos há mais de 30 anos. Bem, o campeonato, na verdade, começou por esta prova em Reguengos de Monsaraz, organizada pela Secção de Motorismo da Sociedade Artística Reguenguense, uma colectividade que acolheu de braços abertos alguns apaixonados pelos motores, alargando a sua actividade a esta, que desde há 29 anos tanta gente atrai às terras de Monsaraz.

Este ano, em que a equipa foi renovada, o encontro repetiu-se, com o mesmo entusiasmo de sempre e a presença de público espalhado pelos campos somente veio reafirmar que estas corridas continuam a despertar a mesma paixão. Nem que sejam por oferecerem um excelente pretexto para sair de casa e conviver durante toda uma jornada no campo, à sombra das frondosas azinheiras – que os sobreiros não abrem tanto a copa… – refrescando a garganta com caixas e caixas de “minis”, que sempre ajudam também a “diluir” as bifanas e as entremeadas.

Os aplausos só faltaram no momento da chegada ao palanque instalado diante dos paços do concelho de Reguengos de Monsaraz, onde vencedores e vencidos tinham à espera os seus amigos e apoiantes mais chegados, que foram desmobilizando à medida que desciam da rampa os carros que os fizeram ir até aí.

Hugo Raposo e João Santos, que alinharam na prova com um Nissan Pathfinder, foram uma das equipas que deixou os nomes inscritos no livro de ouro desta corrida, com a menção “vencedores”. Vencedores da categoria T8, onde correm modelos já ultrapassados, que perderam a homologação internacional, mas que continuam em condições de participar nestas provas. O Nissan de Raposo e Santos demonstrou-o bem, pois posicionou-se, em termos absolutos, no 18º lugar, entre 28 equipas que chegaram ao final e se classificaram. Nada mau, portanto…

Os outros vencedores desta lista, passada de trás para a frente, terminaram já entre os primeiros. Encontramos os seguintes no nono posto da classificação geral: foram eles Rui Sousa e Carlos Silva, dupla que há mais de duas décadas que compete junta na todo terreno e que em Reguengos de Monsaraz repetiram a vitória no grupo T2, reservada aos modelos de “produção melhorada”, que não quer dizer veículos de série, mas que, pelo menos obriga a que a base seja uma viatura de produção. E Rui Sousa já há longos anos que defende as cores da Isuzu no todo terreno. Depois de algumas temporadas a conduzir um protótipo, regressou este ano às Isuzu D-Max do grupo T2, que em teoria não chegam para se bater com os protótipos que dominam os lugares cimeiros, mas que conseguem alguns milagres, fruto de uma preparação muito cuidada, tal a experiência da equipa Prolama, que permite a Rui Sousa atacar mais do que era suposto que um veículo deste grupo pudesse suportar. E com duas vitórias de seguida, é caso para dizer que a aposta no campeonato T2 é uma adivinha fácil!

Avançamos até ao sexto lugar absoluto e encontramos mais uns vencedores, os penúltimos da lista: Pedro Dias da Silva e José Janela, que inauguraram com o triunfo a décima temporada do Desafio Total Mazda, uma iniciativa conjunta da petrolífera francesa e da marca japonesa, que hoje além de ser única no quadro destas provas, tem contribuindo cada vez mais para a sua dinamização. E em Reguengos de Monsaraz, a vitória de Pedro Dias da Silva e José Janela foi conquista com especial mérito, pois conseguiram um avanço de cerca de 19 minutos sobre o adversário mais directo deste Desafio Total Mazda; foram eles Bruno Oliveira e Paulo Marques, que além de segundos deste “desafio monomarca”, terminaram no décimo lugar absoluto.

Por fim, os vencedores absolutos: Ricardo Porém e Hugo Magalhães ganharam, literalmente, tudo o que havia para ganhar nesta prova, impondo a sua Ford Ranger como a mais rápida em todos os momentos da corrida: no prólogo, com pouco mais de oito quilómetros, e nos dois sectores selectivos, que repetiram um troço de 141 quilómetros. Atrás deles, colocou-se a Nissan Navara V8 de Hélder Oliveira e Pedro Pires de Lima, que demorou mais cinco minutos e 46 segundos a cumprir o mesmo percurso. Esta Nissan roncou forte durante todo o percurso e Oliveira confessou que, deliberadamente, não quis arriscar um andamento mais rápido para alcançar Ricardo Porém, “pois além de não ter treinado o suficiente para conhecer bem este carro, reconheço que em condições normais não conseguiria tirar a vitória ao Ricardo e como ele não teve problemas que o atrasassem, o meu segundo lugar final foi um excelente resultado”.

A mesma ideia é partilhada por Pedro Ferreira, o terceiro classificado. Ao volante de uma Volkswagen Amarok, Ferreira, que foi acompanhado pelo navegador Valter Cardoso, ficou a cinco minutos e 39 segundos de Hélder Oliveira e ao repetir o resultado da prova de abertura da temporada, ascendeu ao segundo lugar do campeonato, “uma boa recompensa para o nosso esforço e que nos abre excelentes perspectivas para o ano que ainda temos pela frente, em que procuraremos sempre o melhor resultado, sem ultrapassarmos as nossas possibilidades”. Mesmo consciente de não conseguir alcançar a Nissan de Hélder Oliveira, Pedro Ferreira teve de acelerar para não permitir que fosse alcançado pelo BMW X1 Proto dos irmãos Alexandre e Rui Franco, pois esta dupla terminou no quarto lugar, a somente um minuto e 21 segundos da Volkswagen Amarok. E esta foi a diferença mais reduzida entre duas equipas, considerando as dez melhores da classificação.

E entre os primeiros, uma referência ainda para Henrique José Silva e Rui Gomes, quintos ao volante de um Mini Cattiva, no final de uma prova em que foram subindo gradualmente na classificação. E sem querer retirar o mérito a esta dupla, o quinto lugar foi conseguido já na parte final do último sector cronometrado, quando o Kia Sportage de Nuno Madeira e Luís Miguel Costa deixou de dispor de direcção assistida. “Isso aconteceu-nos cerca do quilómetro 70 e ainda tínhamos outros tantos para percorrer até à chegada”, contou-nos o navegador. Luis Miguel Costa explicou-nos que “a direcção acabou por ceder e foi com grande esforço que a reparámos em plena pista, mas isso custou-nos um atraso de cerca de uma hora”, que se reflectiu na descida do quinto para o 16º lugar…

Campeonato prossegue dentro de duas semanas

Dentro de duas semanas, está já marcada a próxima ronda do Campeonato Nacional de Todo Terreno. Desta feita, será em Proença-a-Nova, numa organização da Escuderia Castelo Branco.

Aqui as atenções irão estar concentradas em Ricardo Porém, que ao vencer em Reguengos de Monsaraz ascendeu à liderança do campeonato; para que a discussão pelo título seja tão equilibrada quanto foi nos últimos anos, é fundamental que o mais forte adversário de Porém possa não só estar presente, como acompanhá-lo na discussão da vitória.

Falamos de João Ramos e Victor Jesus, os vencedores da primeira prova do ano, que na Baja T.T. Reguengos de Monsaraz percorreram somente o primeiro quilómetro do prólogo, capotando aparatosamente a Toyota Hilux, que sofreu bastante com este acidente; de tal modo que conseguir recuperá-la a tempo da prova seguinte será em si uma vitória…

Revista Todo Terreno


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