Foi já nos primeiros dias de Abril que arrancou a temporada de Bajas. Falamos das corridas originais, que devem o seu nome ao facto de terem todas por cenário a Baja Califórnia. É um campeonato norte-americano onde as corridas são disputadas no México, o que só o torna mais particular. Na prova inaugural, a Baja San Felipe 250, o triunfo foi conquistado por Andy McMillin, um dos pilotos com mais sucesso neste campeonato!
O campeonato da Bajas organizado pela SCORE é uma referência para os pilotos norte-americanos que competem com os “trucks” nas pistas do deserto. Quando falamos em “trucks”, deve entender-se pick-up’s. São todas com motor central a gasolina de grande cilindrada, potências na ordem dos 900 cv e tracção posterior. A suspensão de elevado curso é outra das características destes “trucks”. Serviram de inspiração, por exemplo, para os protótipos que a Peugeot desenvolveu para o Rali Dakar.
Concebidas para voar sobre o deserto
A imagem mais comum quando vemos um destes “trucks” em acção, é a voar sobre o mais pequeno obstáculo do caminho. A suavidade e o enorme curso das suspensões fazem destes os veículos perfeitos para rolar no deserto.
Estas pick-up’s ultrapassam o meio metro de curso de suspensão; é o que lhes permite suportar sem dificuldade os pisos mais irregulares. Saltam tanto que não é qualquer piloto que as consegue conduzir. Que o diga Stéphane Peterhansel: quando conduziu pela primeira vez um carros destes sentiu que tinha de aprender a guiá-los.
Essa primeira experiência foi com o protótipo do Peugeot 2008 DKR, nas pistas de Château Lastours. Correu tão mal que acabou com o carro de rodas no ar e o chassis partido. Mas Peterhansel tomou-lhe o jeito, tanto mais que acrescentou duas vitórias ao seu palmarés no “Dakar”.
Hoje seria um desafio interessante ver Peterhansel a competir numa destas provas norte-americanas. O recordista em vitórias no “Dakar” nunca teve esta oportunidade. Mas Cyril Despres, seu antigo companheiro na Peugeot, teve. O ano passado Despres aproveitou a experiência com os Peugeot, em tudo semelhantes a estes “trucks”, para competir na Baja 500.
Na estreia, Despres teve como companheiro de bordo o norte-americano Bryce Menzies, uma das “estrelas” destas provas. Desistiram pouco antes da prova ter chegado a meio. A quebra da transmissão determinou o termo da experiência, mas as impressões foram positivas.
Nova época arrancou em San Felipe
Este ano, o campeonato da SCORE começou logo nos primeiros dias de Abril. A corrida inaugural foi a San Felipe 250. tratou-se da primeira de quatro provas. Uma excepção ao calen18dário habitual, que começa pela Baja 250, prossegue com a Baja 500 e termina com a Baja 1000. Nesta época, haverá lugar à Baja 400!…
Em 33 anos, o itinerário da Baja San Felipe 250 nunca tinha sido tão extenso quanto o desta edição: foram percorridas 349 milhas! O percurso desenhou um oito na Baja Califórnia, alternando entre a costa do Pacífico e o Golfo da Califórnia.
Apesar de tratar-se da prova mais curta da temporada, a verdade é que é um concentrado de dificuldades. O traçado leva os concorrentes a algumas das passagens mais temidas das Bajas. Las Cuevitas, Matomi, Huatamoti e Amarillo são alguns desses lugares que deixam sempre o pilotos apreensivos.
Estes quatro pontos caracterizam-se por passagens de areia muito mole. E como os “Trohpy Trucks” não dispõem de tracção integral, o risco de ficarem enterrados na areia é elevado. E basta um incidente desses para comprometer toda uma corrida.
Seis horas a acelerar pela Baja Califórnia
O Chevrolet de Andy McMillin percorreu as 349,91 milhas em pouco mais de seis horas, passadas literalmente a acelerar. Sempre foram 563,12 quilómetros através da Baja Califórnia, para usarmos uma medida mais de acordo connosco. E ao estabelecer um tempo total de 6h04m26,3s, McMillin completou a prova com uma média impressionante: 92,7 km/h.
Basta fazer as contas para percebermos que a cada 36 segundos o carro do vencedor percorreu um quilómetro pelas pistas poeirentas da Baja Califórnia.
Millin teve de enfrentar 238 adversários e a meio da prova apanhou um susto tremendo: “Aterrei mal de um voo sobre uma lomba e o carro capotou”. Mas o incidente não passou de um susto: “Felizmente que rolamos no ar e caímos com as rodas no chão, pelo que continuei a acelerar” – contou o piloto.
À chegada a San Felipe, a vantagem de Andy McMillin foi de apenas um minuto e 48 segundos. Mas entre a pick-up de Ryan Arciero, o segundo classificado, e de Dan McMillin, terceiro, a diferença foi de apenas 15 segundos!
Com 33 anos, Andy McMillin nasceu nestas corridas. Aos dois anos já acompanhava a família, quando iam treinar os percursos no deserto. O pai sentava-o ao seu lado, instalado num banco adaptado para crianças. Isso fez com que Andy crescesse a sonhar com as corridas. O piloto conta que aos 10 anos começou a conduzir nas pistas do deserto. E fazia-o sonhando que era um dos campeões da altura.
O palmarés invejável de Andy McMillin
Estreou-se nas Bajas aos 14 anos, conduzindo um buggy. Em 2003, quando tinha apenas 17 anos, alinhou pela primeira vez no campeonato SCORE, com uma “Trophy Truck”. Em 2005 venceu pela primeira vez a Baja San Felipe. E no ano seguinte obteve a consagração ao ganhar a Baja 1000. Foi o piloto mais jovem de sempre a conseguí-lo.
O palmarés de Andy McMillin é invejável. Aos 29 anos já tinha ganho por cinco vezes a prova mais importante desta competição: a mítica Baja 1000. Ainda hoje detém este recorde. Além disso, McMillin é um dos escassos pilotos que já conquistou a ambicionada tripla coroa. Este é o título conferido a quem consegue ven18cer as três provas da SCORE: a Baja San Felipe 250, a Baja 500 e a Baja 1000.
Em provas com percurso em linha, como são as Bajas do campeonato SCORE, arrancar na dianteira é desde logo um trunfo importante. Gerir as paragens para reabastecimentos como se fosse numa corrida de Fórmula 1 também. Andar a fundo sempre que possível e parar apenas o estritamente necessário foi o segredo desta vitória de McMillan. O piloto venceu pela segunda vez em San Felipe e o melhor prémio deste triunfo é precioso: será o primeiro a arrancar para a Baja 500, a próxima prova, no final de Maio!
por: Alexandre Correia